O moço que não tinha nome
Caravaggio - Rapaz levando um cesto de frutas O moço que não tinha nome Era um moço que não tinha nome. Nem nunca tinha tido. Um moço que, não tendo nome, também não tinha rosto. -Psiu! - chamavam-no as pessoas. E ele, acostumado desde pequeno, atendia. Porém, quando se aproximava, quem o tinha chamado via em lugar do rosto dele seu próprio rosto refletido, como num espelho. E enchia-se de espanto. Assim, sem olhos ou sorriso que fossem seus, ninguém conseguia escolher um nome que ele se ajustasse, tornando-o único, impossível de ser confundido com qualquer outro. Era muita ausência para ele carregar. E cedo decidiu que, tão logo estivesse crescido, dono enfim da sua vida, partiria à procura do rosto que lhe pertencia e que, certamente, havia de estar perdido em alguma parte do mundo. Chegada a idade, juntou suas coisas, saiu da aldeia e começou a andar. Andou e andou. Nos castelos que lhe davam hospedagem, examinava ansioso os quadros e as tapeçarias, aprox