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Há muitas coisas
O cão sem plumas
O cão sem plumas - João Cabral de Melo Neto I. Paisagem do Capibaribe A cidade é passada pelo rio como uma rua é passada por um cachorro; uma fruta por uma espada. O rio ora lembrava a língua mansa de um cão, ora o ventre triste de um cão, ora o outro rio de aquoso pano sujo dos olhos de um cão. Aquele rio era como um cão sem plumas. Nada sabia da chuva azul, da fonte cor-de-rosa, da água do copo de água, da água de cântaro, dos peixes de água, da brisa na água. Sabia dos caranguejos de lodo e ferrugem. Sabia da lama como de uma mucosa. Devia saber dos polvos. Sabia seguramente da mulher febril que habita as ostras. Aquele rio jamais se abre aos peixes, ao brilho, à inquietação de faca que há nos peixes. Jamais se abre em peixes. Abre-se em flores pobres e negras como negros. Abre-se numa flora suja e mais mendiga como são os mendigos negros. Abre-se em mangues de folhas duras e crespos como um negro. Liso como o ventre de uma cadela fecunda, o rio cresce sem nunca explodir. Tem, o
O segredo da vida, penso eu, consiste em desenvolver a habilidade de perceber as pequenas epifanias que nos cercam, por todo o tempo, inclusive aqui, inclusive agora ... Acho que foi Proust que escreveu ser o segredo da vida "ter novos olhos" ...
ReplyDeleteSabe, Eliana (tu, contigo), este Lobo deseja muito que tu sejas feliz...
Bj.
Harry