"[...] O que te direi? te direi os instantes. Exorbito-me e só então é que existo e de 
 um modo febril. Que febre: conseguirei um dia parar de viver? ai de mim que 
 tanto morro. Sigo o tortuoso caminho das raízes rebentando a terra, 
tenho por dom a  paixão, na queimada de tronco seco contorço-me às labaredas. 
À duração de minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser 
 concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo 
 que lateja no tique-taque dos relógios. 
Para me interpretar e formular-me preciso de novos sinais e articulações novas 
 em formas que se localizem aquém e além de minha história humana. 
 Transfiguro a realidade e então outra realidade sonhadora e sonâmbula, me cria.
 E eu inteira rolo e à medida que rolo no chão vou me acrescentando em folhas, 
 eu, obra anônima de uma realidade anônima só justificável enquanto dura a 
 minha vida. E depois? depois tudo o que vivi será de um pobre supérfluo. [...] 

C L (Água viva)

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